Hoje, 16/09/2010, ops, errei o ano... É que nesse instante o
tempo parece não ser mais cronológico quanto é entendido, talvez um tempo nada mais retilíneo como todos nós entendemos. Eu volto num tempo e misturo-me no
hoje como se toda transformação
iniciasse agora. Eu recém sabia que minha vida estava preste a tomar nova
feição. Hoje, nessa data, há dois anos
minha razão conhecia que o destino estava traçado e eu sutilmente descobria que
estava grávida do pequeno Caetano. Um chamado Terra abrigou meu útero e
transformava meu ar, meu corpo, uma embriaguez avassaladora dominou e tirou-me de
todos os eixos tomados como certos.
Hoje, meio confusa no ontem e no agora, vejo o quanto tais
transformações arrebataram todas as nossas vidas. Nosso pequeno completa hoje
também 16 meses e agora já toma outras proporções em seu desenvolvimento. Sobe, desce, corre, caminha, cai... Ah, e
quantas palavras já dominam essa boquinha, uma coisa bizarra que só mãe e quem
estiver por perto pode maravilhar-se com esse poder de comunicação pela fala.
Hoje contamos, são cerca de vinte e sete palavras que já domina, palavras que já
fazem parte do seu vocabulário. Pede frutas (mamann “mamão”, naãna “larana”,
uba “uva”, nana “banana”, mon “limão”); esboça a alegria pela natureza (arrvre “árvore”,
aua “lua, que ama tanto”, bá “barco”, má “mar”, aba “água”, bamba “balança ao
ar livre”; fala da família (mamaiii “mamãe”, baba “papai”, auóó “vovó-paterna”,
dadá “vovó materna”). São algumas palavrinhas que já são parte da sua memória.
E quão bom é poder vê-lo brincando com as possibilidades da comunicação: sons,
palavras, gestos, olhares, são parte
desse arsenal que nos atravessa diariamente.
Ah, mas a palavra que estremece a alma, que conforta todo o
bom coração quando nos atira juntamente com seu carinhoso olhar é o “AMAAA” (te amo). Sim, ele esboça isso a todos
os quatros cantos, todas as vezes que sente vontade, todas as vezes que acha que
deve esboçar essa importância a alguém.
Caetano tem me saído um verdadeiro peixinho da água, vai
para o mar sem qualquer medo, eu tenho que quase agarrá-lo pelo colarinho porque a imensidão do
mar não tem fim para ele, quer atirar-se e vai... A mãe então corre como uma
louca. Ele que se deleita pelas areias, catando pedacinhos de galhos de árvores
para desenhar na área, ele que adora contemplar todos os possíveis sons...
Sons... ah, esse é um dançarino da vida, acorda dançando e
dorme dançando. Adora ver o pai batucar no corpo, pega as panelas e toca com
uma colher de pau, basta um som... Até dormindo, com música de ninar, vejo o
seu corpo sacudir no meu colo enquanto mama...
Carros... quantos “brummss”, é lixeiro, caminhão de gás,
avião, moto (o favorito), carros, ah alegria tamanha de apenas ouvir os
motores, quanto mais estar dentro...
Comidas, tudo está de bom grado, come de tudo e explora de
tudo, desde texturas, cores, cheiros. Cultivou por meses uns tomates plantados
no quintal. Hoje, colheu numa alegria tremenda e comeu com muito gosto,
mordendo e saboreando aquela bola vermelha e docinha.
Em falar em natureza,
o pequeno tem vivenciado toda ira que nela pode conter. Oito dentes resolveram vir juntos (escute
bem, JUNTOS) numa boquinha tão pequena. O espantoso é admirar que o pequeno lida muito bem com tamanha
violência (para não dizer que não houve transformações, apenas um dia tivemos
uma pequena diarreia e alguns incômodos que são solucionados com colinhos e
alguns mordedores). Oito dentes? Eu não sei se resistiria com tamanha alegria.
Nas mamadas já descobre a amplitude do seu corpo e quando
vejo já tem um pé enroscado no meu braço, uma mão presa no meu cabelo ou leve
carinho no meu rosto.
Já reconhece todo seu corpo identificando partes deles como umbigo, cabeça, cabelo,
nariz, boca, orelha, bumbum, fazedor de xixi, pé e mão. Ele é muito prudente com seu corpo, sempre faz
descoberta sendo cauteloso, sem colocar-se em riscos como quedas, batidas, é
sempre admirável.
Mas, é impossível não se enrolar na sua criação: Caetano
cria com um grampo de roupa, com uma caixa de papelão e tudo que soltar em sua
mão, logo corre perambulado para pensar
o que fazer com tal objeto. Cria com
cores, brinca com gostos e suja-se muito.
E nesse brincar eu me descubro mais criança, eu me descubro
menos rígida, descubro-me viciada pelo seu sorriso, pela sua alegria, viciada
pela minha alegria que se mistura com o seu olhar. Descubro-me viciada pelo seu
toque, pelo seu abraço, pela sua voz, pelo tom da sua voz. Descubro-me amante
da sua intensidade, descubro-me menos mãe
que precisa constantemente conduzir e sinto-me mais conduzida,
mais embriagada, com pensamentos atravessados constantemente pela emoção de
perder-me nas suas brincadeiras.
Há dois anos sou outro alguém que nem sequer conheço. E
talvez, esse alguém é tão dinâmico que nem sequer valeria explicar “quem sou
hoje”, uma mistura de um ontem (com o sentimento de uma grávida seduzida pela embriaguez
e pela ansiedade da mudança por vir) com o hoje, com o agora de uma mãe que
vivencia o prazer da doçura de um viver livre, sem qualquer empecilho...