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Violência Obstétrica: a voz das brasileiras






“Que nossas vozes sejam ouvidas, que nossas histórias não sejam ignoradas” (trecho retirado do depoimento do vídeo "Violência Obstétrica: a voz das brasileiras")


O Nascer... Um momento sagrado, um momento transformador dos mundos, um momento Criador.
No nascer abrimos para o mundo, sentimos toda nossa potência, toda a vida que brota de nós...
É o que deveria ser! Infelizmente, a realidade nos mostra que em cada quatro brasileiras, uma sofre violência obstétrica. É de chocar a tamanha brutalidade humana dos acontecimentos.
É preciso levar adiante isso e não calar. É preciso que, ao menos, essas informações  cheguem, alertando as inúmeras mulheres do quanto elas podem se tornarem mais uma vítima...
Assistam aqui!


Gostaria aqui de parabenizar Ligia Sena, Kalu Brum, Ana Carolina Franzon, Bianca Zorzan pela criação coletiva desse vídeo, bem como pela edição e montagem de Armando Rapchan. Tenho a certeza que tantas mulheres se encontraram nessas histórias e vocês conseguiram: realmente não ignoraram tantas histórias desse Brasil.  Lindo e emocionante trabalho! Muito obrigada!

Para saber mais: 
http://www.cientistaqueviroumae.com.br
http://www.partonobrasil.com.br/
http://www.mamiferas.com/blog/

Dia Mundial Contra Violência Infantil: nosso caminhar!





Refletir acerca da violência é adentrar em espaços onde a dor e as marcas são inestimáveis, é buscar respostas para tantos atos que jamais serão explicáveis. É colocar-se nesse espaço e compreender que papel eu assumo diante desse cenário, ou seja, que  relação que estabeleço comigo mesmo e com o outro.  Violências (com s), já dizem os estudiosos, anuncia não apenas as diversas violências (física, psicológica, sexual, etc) como, sobretudo , nos dá uma dimensão do problema que não se esgota.
Pois bem, trato aqui de falar meu percurso nesse cenário, sobretudo, trazendo isso para pensar como escolhi educar meu pequeno. Cresci considerando necessários os chamados “tapas como correção”, pois eles eram tidos como a expressão do limite entre crianças e seus pais.  Aqui já estamos diante de uma complexidade do problema que é o entrecruzar dos conceitos violências, poder e limites.
 Assumia para mim que colocar limites era necessário mesmo que isso significasse “os tapas”. Isso era tomado como verdade para minha família também, para a família do meu marido. Apanhei, entendi os motivos culturais que fizeram meus pais assumirem tal postura, não os culpei, não tive marcas (que eu perceba) profundas por conta disso, mas consigo hoje rever meus conceitos frente a esse problema.  O meu primeiro monstro estava escrito: “a Humanidade reverenciou erros sobre o nome de verdade” (Nietzsche)
Eis que as minhas mudanças foram tomando outros percursos quando resolvi atuar como professora de dança e educação física na educação infantil.  Lá, presenciei inúmeras violências das mais sutis até as mais explicitas (digo isso tanto cometido pelos pais, como também pelos professores, equipe e gerencia pedagógica).  Minha indignação era porque se tratava de crianças de até seis anos, eu sabia das consequências, dos traumas, enfim, das marcas que essas crianças carregariam para o resto das suas vidas. Cada dia eu voltava com um “nó na garganta”. Meu segundo monstro: “O Outro era meu espelho”, precisei revisitar meus conceitos, minhas ações com as crianças, a pergunta que eu fazia: “o que eu queria plantar nas vidas delas?”. Sempre fui amorosa com elas, mas algumas das muitas ações eram despercebidas “porque a humanidade reverenciava desse jeito e assim eu fazia” e foi preciso revisitar cada uma delas para me fazer compreender e o motivo da minha docência.
Engravidei, enquanto estava atuando como docente de um curso de pós- graduação cujo tema gerador era acerca das violências. Ali, eu lidei de frente com as estatísticas e com o choro de muitos professores acerca desse tema. Pude entender que não se tratava apenas dos limites, mas de uma realidade cruel e desafiadora para a humanidade.  Era para além de achar culpados, mas, sobretudo tratava de travar essa guerra a começar pela gente mesmo: “Em que momento da vida eu sou violenta sem sequer me dar conta disso?”.
Foi assim que eu fui surpreendida pela maternidade e por um rever todos meus conceitos. Ganhei um anjo que precisa ser conduzido; eu e o meu marido somos responsáveis por compartilhar e mostrar esse mundo a ele. Já carrego comigo que educar jamais trilha o mesmo caminho do violentar.
Creio que a convivência que estou tecendo com o pequeno me faz novamente pensar o outro como meu espelho: “o outro eu mesmo”, sendo iluminada pelo poema de Clarice Lispector. Caetano me transforma, ensina a reconhecer os meus limites, as minhas tolerâncias e aqui traço um novo compreender acerca da minha autoridade frente a ele. 
O outro aqui também me é tido como barreira: ele também tem suas tolerâncias e limites. Aprendo o meu espaço frente a sua pessoa, frente ao seu corpo, frente a sua vida. Portanto, educar pode ser considerado, sobretudo, viver com harmonia e reconhecimento dos limites e possibilidades de convivência. E quando penso nos “métodos”, penso que adotamos apenas a convivência do respeito e amor mútuo. Mas, seria um “tapa” uma violência? Na medida em que entendemos que há violação do outro, do corpo do outro,  do não respeito, para mim é fato: é violência. 
Ok, não confundam que minha autoridade como mãe me confere esse poder. Eu costumo diferenciar muito bem autoritarismo e autoridade.  Minha ação de poder jamais consente a violência sobre o seu ser.
Sim, esse é um embate que assumi para mim e constantemente sou atravessada por esses pensamentos. Se tenho raiva? Se estou cansada diante de algum “chiliques” do pequeno que por vezes, tem ações que me tiram do eixo? Sim, sou humana-demasiada humana (reconhecer isso também faz parte do meu aprendizado). Eu sou a adulta, capaz de compreender sensações, eu preciso entender como lidar com os meus próprios sentimentos e encarar que jamais poderei tomar atitudes extremadas de violências. 
Ah, mas tapas não são espancamentos! Não? Pensem comigo: quando você bateu pensando apenas vou dar um tapa corretivo? Quanta raiva, quanto amargor (que às vezes nem tem causa direta com a ação do filho- às vezes uma simples mágoa do marido que discutiu um pouco antes, ou o cansaço que impera depois de uma longa jornada de trabalho), tudo isso, toda essa carga emocional está embutido num gesto de um “tapa”. Será ela mesmo capaz de corrigir a humanidade? Ações que supostamente você considera educativas tem um limiar muito pequeno para ser transformada em ações considerada violenta. Pense sempre nisso! 
E optar pela não violência não significa não colocar limites, ao contrário: Na medida em que preservo o espaço do outro a humanidade aprende que cada qual tem o seu espaço, isso lhe confere um grau de autonomia e da convivência respeitosa.
É esse o desejo que tenho, é essa semente que quero plantar para meu filho, não quero que ele compreenda que qualquer ação desrespeitosa com o outro é válida para se conquistar ou se ter algo. Não quero que ele entenda que eu sou a mãe e por isso posso violentá-lo. Não quero que cresça sendo covarde, batendo em crianças, esposas, idosos, etc. Não quero para ele esse mundo em que a banalização do mal impera. Não quero... Não quero....
Ah, se ele apenas continuar dizendo “amooo” aos ventos, dando seus abraços calorosos, rindo e com esse olhar como quem vê o mundo a “casa” dele, eu morro feliz. Afinal, como diz Nietzsche: “Somos nós que criamos o mundo que interessa ao homem!”, seja bem-vindo a ele meu filho...

Música para compor nossos encontros!





Hoje reconheço: " Sem a música a vida seria um erro!" (NIETZSCHE)

Foto tirada pela Dadá (minha mãe) em um dos seus momentos a sós com o pequeno
Obrigada pelo registro lindo!

Dorme que eu vou te embalar
No meu colo quente
Como a lua embala o mar
E a maré embala a gente

Dorme que eu vou te velar
Pela noite quieta
Como a chama do luar
Vela o sono dos poetas

Dorme que eu vou te ninar
No teu canto de criança
Como sempre ouvi meu pai cantar
Um acalanto de esperança






Te amo sempre



Apenas uma música: Venha conhecer a vida




Hoje, fui tomada por essa música, lembranças do momento em que recebi meu filho nos meus braços, lembranças de boas vindas...

"Venha conhecer a vida

Eu digo que ela é gostosa

Tem o sol e tem a lua

Tem o medo e tem a rosa

Eu digo que ela é gostosa

Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa
Eu digo que ela é gostosa"


Não lembrava que tocava nesse momento. Ao rever o vídeo, descubro que a equipe humanizada que acalantou meu parto colocou-a para embalar esse instante mais intenso. Bela música para meu dia hoje.

Para acalantar os seus ouvidos meu amor Caetano!





dois anos de descobertas!




Hoje, 16/09/2010, ops, errei o ano... É que nesse instante o tempo parece não ser mais cronológico  quanto é entendido, talvez  um tempo nada mais retilíneo como todos nós  entendemos. Eu volto num tempo e misturo-me no hoje como  se toda transformação iniciasse agora. Eu recém sabia que minha vida estava preste a tomar nova feição. Hoje, nessa data,  há dois anos minha razão conhecia que o destino estava traçado e eu sutilmente descobria que estava grávida do pequeno Caetano. Um chamado Terra abrigou meu útero e transformava meu ar, meu corpo, uma embriaguez avassaladora dominou e tirou-me de todos os eixos tomados como certos.
Hoje, meio confusa no ontem e no agora, vejo o quanto tais transformações arrebataram todas as nossas vidas. Nosso pequeno completa hoje também 16 meses e agora já toma outras proporções em seu desenvolvimento.  Sobe, desce, corre, caminha, cai... Ah, e quantas palavras já dominam essa boquinha, uma coisa bizarra que só mãe e quem estiver por perto pode maravilhar-se com esse poder de comunicação pela fala. Hoje contamos, são cerca de vinte e sete palavras que já domina, palavras que já fazem parte do seu vocabulário. Pede frutas (mamann “mamão”, naãna “larana”, uba “uva”, nana “banana”, mon “limão”); esboça a alegria pela natureza (arrvre “árvore”, aua “lua, que ama tanto”, bá “barco”, má “mar”, aba “água”, bamba “balança ao ar livre”; fala da família (mamaiii “mamãe”, baba “papai”, auóó “vovó-paterna”, dadá “vovó materna”). São algumas palavrinhas que já são parte da sua memória. E quão bom é poder vê-lo brincando com as possibilidades da comunicação: sons, palavras,  gestos, olhares, são parte desse arsenal que nos atravessa diariamente.
Ah, mas a palavra que estremece a alma, que conforta todo o bom coração quando nos atira juntamente com seu carinhoso olhar é o  “AMAAA” (te amo). Sim, ele esboça isso a todos os quatros cantos, todas as vezes que sente vontade, todas as vezes que acha que deve esboçar essa importância a alguém. 
Caetano tem me saído um verdadeiro peixinho da água, vai para o mar sem qualquer medo, eu tenho que quase  agarrá-lo pelo colarinho porque a imensidão do mar não tem fim para ele, quer atirar-se e vai... A mãe então corre como uma louca. Ele que se deleita pelas areias, catando pedacinhos de galhos de árvores para desenhar na área, ele que adora contemplar todos os possíveis sons...
Sons... ah, esse é um dançarino da vida, acorda dançando e dorme dançando. Adora ver o pai batucar no corpo, pega as panelas e toca com uma colher de pau, basta um som... Até dormindo, com música de ninar, vejo o seu corpo sacudir no meu colo enquanto mama...
Carros... quantos “brummss”, é lixeiro, caminhão de gás, avião, moto (o favorito), carros, ah alegria tamanha de apenas ouvir os motores, quanto mais estar dentro...
Comidas, tudo está de bom grado, come de tudo e explora de tudo, desde texturas, cores, cheiros. Cultivou por meses uns tomates plantados no quintal. Hoje, colheu numa alegria tremenda e comeu com muito gosto, mordendo e saboreando aquela bola vermelha e docinha.
Em falar em natureza,  o pequeno tem vivenciado toda ira que nela pode conter.  Oito dentes resolveram vir juntos (escute bem, JUNTOS) numa boquinha tão pequena. O espantoso é  admirar que o pequeno lida muito bem com tamanha violência (para não dizer que não houve transformações, apenas um dia tivemos uma pequena diarreia e alguns incômodos que são solucionados com colinhos e alguns mordedores). Oito dentes? Eu não sei se resistiria com tamanha alegria.
Nas mamadas já descobre a amplitude do seu corpo e quando vejo já tem um pé enroscado no meu braço, uma mão presa no meu cabelo ou leve carinho no meu rosto.
Já reconhece todo seu corpo identificando  partes deles como umbigo, cabeça, cabelo, nariz, boca, orelha, bumbum, fazedor de xixi, pé e mão.  Ele é muito prudente com seu corpo, sempre faz descoberta sendo cauteloso, sem colocar-se em riscos como quedas, batidas, é sempre admirável.
Mas, é impossível não se enrolar na sua criação: Caetano cria com um grampo de roupa, com uma caixa de papelão e tudo que soltar em sua mão, logo corre  perambulado para pensar o que fazer com tal objeto.  Cria com cores, brinca com gostos e suja-se muito.
E nesse brincar eu me descubro mais criança, eu me descubro menos rígida, descubro-me viciada pelo seu sorriso, pela sua alegria, viciada pela minha alegria que se mistura com o seu olhar. Descubro-me viciada pelo seu toque, pelo seu abraço, pela sua voz, pelo tom da sua voz. Descubro-me amante da sua intensidade, descubro-me menos mãe  que precisa constantemente conduzir e sinto-me mais conduzida, mais embriagada, com pensamentos atravessados constantemente pela emoção de perder-me nas suas brincadeiras.   



Há dois anos sou outro alguém que nem sequer conheço. E talvez, esse alguém é tão dinâmico que nem sequer valeria explicar “quem sou hoje”, uma mistura de um ontem (com o sentimento de uma grávida seduzida pela embriaguez e pela ansiedade da mudança por vir) com o hoje, com o agora de uma mãe que vivencia o prazer da doçura de um viver livre, sem qualquer empecilho...


Em nome da dita "socialização"!



Passado essas semanas turbulentas de extremo cansaço; sim, sobrevivi. Eu estou de volta tentando trazer mais um pouco da vida que estamos passando com o pequeno... Fomos a congresso, ele resistiu a mãe pirada para entregar um artigo, e conseguimos...
Bom, no meio desse processo, alguns questionamentos pairavam aqui essa cabecinha meio “lelé da cuca”. Meu pequeno Caetano estaria privado de socialização? Vou contar tim- tim por tim- tim.
Foi assim: num dos nossos passeios, no parque aqui do bairro, Caetano deparou-se com algumas crianças maiores brincando. Ele, que não adora, mas venera criança, saiu gritando: - neném, neném! Eu , como sempre, acompanho para ver como ele vai se enturmar com as outras crias. Eis que as crianças nem sequer deram bola para o pequeno. Para falar a verdade, uma apenas que esboçou um tchauzinho. Ele ainda insistiu, mas elas nem aí para ele. Aquilo me doeu. Logo veio imagens da minha infância, sensações de “abandono” quando um grupo me ignorava, etc. O fato que pensei: ele é muito pequeno para ter esse sentimento de rejeição. Não quero que ele sinta isso (mãe coruja tentando proteger a prole, rsrs). 
Na verdade esse sentimento foi mais meu  do que dele. Mas sei que isso despertou em mim: Caetano precisa estar com outras crianças da idade dele (isso não ocorre muito). Fiquei pensando também: Caetano DEVE socializar-se? Quando é o MOMENTO CERTO? Perguntas bobas, que nem fazia quando lecionava, porque lá no Nei as crianças são OBRIGADAS a socializarem-se. 
Logo me lembrei de outras cenas: uma vez uma vizinha (daquelas que bota a colher aonde não é chamada) falou-me: “ah! Mas ele PRECISA ir para a escolinha!”; disse a ela que já tínhamos feito essa escolha e que também sabíamos do que falávamos porque trabalhamos nisso. Ela fez aquela cara de espanto e ainda completou: “minha neta com cinco meses foi para a escolinha”. Fiz apenas uma “cara de paisagem” (lições brilhantemente aprendidas com minha prima). Outra vez escutei de amigas que para conseguir dar conta do doutorado “ele tem que ir para creche, não tem outra saída”, “ah, mas tem creches e creches...”
Essas cenas despertaram em mim várias reflexões, dentre elas da NORMALIZAÇÃO  de que TODA CRIANÇA DEVE IR PARA UMA ESCOLINHA.  Parece ser consenso que isso É NECESSÁRIO .  Parece que não tenho o direito de lutar por querer ficar com o pimpolho, é como se eu o impedisse de convívio social.
Confesso que quando saí do parque, fiquei bem confusa com isso, estava eu sendo negligente com o pequeno? Mas, peraí: lembrei das inúmeras cenas de horror que  ocorre na escola em nome da socialização (sim, não digo que tudo é ruim). Lembrei que eu posso ter essa possibilidade (o que não é possível a todas as mães, infelizmente) e eu tenho esse DIREITO de ESCOLHA.
Minhas escolhas assim seguiram por acreditar que um eixo educacional é de RESPONSABILIDADE dos pais e que a escola nunca irá suprir essa base. Sei que, muito daquilo que estou ofertando ao pequeno, sobretudo nessa primeira infância, servirá como eixo para a sua vida adulta.  Sei da importância da presença dos pais na primeira infância. Sei das inúmeras inquietações que passei nos NEIs em que dei aulas e, por isso, sei que é extremamente difícil dar uma atenção diferenciada quando se tem até 25 crianças numa mesma sala.
Voltando nessa questão da socialização: não estaria o pequeno Caetano socializando quando está em família? Outra questão: quando está ele desapontando para as relações com os pares, não seria importante o nosso olhar de pais? Ou seja, nesse instante não devemos valorizar nossa permanecia com ele, orientando-lhe nas relações estabelecidas?  Acredito que a criança conhece o mundo conforme lhe apresentamos. Portanto, há uma grande diferença de “jogar a cria no mundo e deixar que ela se vire”  e “apresentar-lhe o mundo, sem pressa nenhuma”.  Essa pressa pela socialização parece que sucumbem ínfimos momentos da criança. Apressar  ela para viver a socialização faz com que, por vezes, viva  coisas que não está preparada.  
É preciso uma boa dose de  amor, de muita segurança no lar, de uma vida sem atropelos, caso contrário, o que posso gerar é muito insegurança e desarmonia na maneira como se relaciona.
É assim que temos apresentado esse mundo ao Caetano. Com calma, sem atropelos e tentando gerar nele a segurança que podemos dar.
Para rir das minhas inúmeras perguntas, das inquietações que surgiram, ele nos presenteou com uma lição de vida.
 Num lindo sábado de sol, resolvemos ir num parque. Logo ao chegar, ele recebeu todas as crianças com muitos abraços. Éh sério, perdi as contas de quantas crianças ele corria para abraçar, gritando “Nenémmm!”. Ele achou um amiguinho (um mês mais velho) e brincou muito.  E como foi bom poder olhar, conduzir e estar nesse momento com ele. Caetano nos mostrou o quanto vale apena ter calma... Ele nos mostrou que sente o mundo e recepciona o mundo com muito carinho.  Sei que nem todos estarão preparados para tanto amor, mas está alí uma linda semente plantada no seu coração... E imagino que pode o mundo ser constituído desses muitos afetos e pode o mundo zelar pelas crianças sem que rotulemos as suas relações.

Cansativa Rotina, o outo lado não dito da maternidade



Pensar nesse tema, por vezes me entristece, pois nesses últimos meses tenho vivenciado muitas inquietações referentes a isso.  O cansaço já me toma e não consigo falar muita coisa. Amanheço com certo ânimo para fazer muitas coisas, achando que vou dar conta do pequeno e tudo que preciso fazer. A rotina diária da casa é só comigo, tento fazer o mais rápido possível (mas, na verdade sempre faço por cima). Acordo, entretenho o baixinho enquanto tomo o café, arrumamos a casa juntos , ele sempre está coladinho comigo para todos os cantos que vou,  logo tenho que pensar na fruta, no fazer comida para nós dois (esse momento é delicado, é sempre difícil cozinhar e entreter o pequeno. Ele sempre está ali, descobrindo os armários que guardo coisas possíveis dele mexer).  Ajeitar tudo, sonecas, mamadas, trocas, suco, fruta, roupa pra lavar. Ao acordar sempre reservamos um passeio gostoso...   E quando vejo o tempo já voou, logo o marido está em casa e eu já tenho que aprontar  a janta e o banho do pequeno. Bom, depois da batalha toda, chega a hora do delicioso e finalmente soninho da noite, e penso que ficaram tantas coisas por fazer. Daí preciso de um fôlego a mais... é hora de tentar estudar. Digo tentar porque é uma batalha comigo. As letras do livro parecem comer minha cabeça e eu quando me vejo já estou fechando os olhos e pensando em outra coisa. Tem sido muito angustiante tentar, tentar e morrer na praia... Por vezes, só quero curtir, olhar outras coisas na net, escrever no blog, namorar .  Além disso, gostaria de ter um tempo só pra mim, fazer mesmo algum exercício, não fazer nada...
Minha inquietação com o não conseguir estudar tem tomado minha cabeça e uma angustia me abafa o coração. Recentemente consegui entrar num programa concorridíssimo e fui abençoada com uma bolsa do CNPQ (para alegria do meu coração que não conseguia mais dividir o Caetano com o trabalho da prefeitura). Foi uma alegria pensar que estudar e conciliar a educação do pequeno era possível.  Eu e o maridão não queremos colocar o pequeno numa creche porque acreditamos que esse é um momento necessário com os pais e imprescindível para sua vida futura, queríamos acompanhar sua trajetória, ademais essa decisão também decorreu das nossas experiências. Eu e o marido somos educadores e, nesses anos, percebemos  coisas que acontecem nesse espaço  que não gostaríamos que nosso pequeno sequer vivenciasse um terço disso. Institucionalizar a educação básica tem sido nosso questionar  diário, a maneira  como isso é conduzido nos angustia. Bom, por fato batemos o martelo e decidimos nos revezar o máximo com o Caetano.  O fato é que se fosse só casa e Caetano acho que estaríamos dando conta. A questão é que minha vida com os estudos está completamente dificultada. E eu, estou cada dia mais angustiada, sobretudo, quando existe um voto de confiança do meu orientador, da universidade que me financia, da minha família que valorizara muito esse resultado de aprovação. O fato é que não estou dando conta, livros não lidos, artigo por fazer, nem sequer norte da pesquisa consigo ter...
Escuto algumas pessoas “mas, ele não está na creche?” , “ Acho que isso é inevitável!”... Para meu desespero me pego pensando “é, talvez seja”; é como assinar minha incompetência de mãe que agora “terceiriza  a educação do filho” para ter um tempinho para fazer o seus estudos.  Isso tem me feito realmente tão mal que nesses meses surtei, pirei,  e o resultado não poderia ser diferente: uma mastite que apareceu e que me resultou  num batalhão de remédios, antibióticos inclusive. Eu, que fujo disso, tive que aceitar após ouvir a médica dizer a coisa está séria e mais um pouco não escaparíamos de uma cirurgia...  Pois é, entendi que essa bendita mastite me alerta: “as coisas estão em desarmonia e você já perdeu o total controle”.  Sinto que é o Stress e o  cansaço  que me levaram a esse quadro.
Toda vez que coloco a cabeça no travesseiro, penso amanhã vai ser diferente e não consigo sequer mudar alguma coisa... Já pensei tomar alguma coisa que me mantivesse acordada para estudar, mas sei o quanto isso é autoflagelar... Amamento o meu pequenino e preciso estar bem para ele diariamente...
Não quero que pense, caro leitor, que esse “peso” é maior que a felicidade com o pequeno. O que faço é assumir o outro lado da maternidade, o lado um tanto obscuro e não dito. É doido isso, mas cada vez que ele corre e me abraça sinto minhas forças revigoradas e penso ”estou no caminho certo”. Toda vez  que vejo a sua felicidade estampada no rosto penso “o que vale mais a vida do que esse belo sorriso?”. Logo, todo meu desespero se vai – o cansaço não, é claro- e vejo quão bom é estar pertinho dele diariamente.
Penso que eu estive presente nas suas primeiras engatinhadas, penso que estávamos com ele no seu primeiro passinho, que seguramos na sua mão diariamente e que posso dar toda a segurança que ele precisa. Eu sei que hoje a minha vida é esse pequeno e que tudo o que eu fizer será para contemplar ainda mais a sua vida...
Um dia escutei “aproveite tudo, porque tudo passa, esse cansaço passa...”.   Enquanto isso, quando o desespero bate só me resta olhar para esse menino e agradecer os Céus pela dádiva da maternidade, pela dádiva de ter conquistado esse espaço para prosseguir com meus estudos e revigorar minhas energias.

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