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Dia Mundial Contra Violência Infantil: nosso caminhar!





Refletir acerca da violência é adentrar em espaços onde a dor e as marcas são inestimáveis, é buscar respostas para tantos atos que jamais serão explicáveis. É colocar-se nesse espaço e compreender que papel eu assumo diante desse cenário, ou seja, que  relação que estabeleço comigo mesmo e com o outro.  Violências (com s), já dizem os estudiosos, anuncia não apenas as diversas violências (física, psicológica, sexual, etc) como, sobretudo , nos dá uma dimensão do problema que não se esgota.
Pois bem, trato aqui de falar meu percurso nesse cenário, sobretudo, trazendo isso para pensar como escolhi educar meu pequeno. Cresci considerando necessários os chamados “tapas como correção”, pois eles eram tidos como a expressão do limite entre crianças e seus pais.  Aqui já estamos diante de uma complexidade do problema que é o entrecruzar dos conceitos violências, poder e limites.
 Assumia para mim que colocar limites era necessário mesmo que isso significasse “os tapas”. Isso era tomado como verdade para minha família também, para a família do meu marido. Apanhei, entendi os motivos culturais que fizeram meus pais assumirem tal postura, não os culpei, não tive marcas (que eu perceba) profundas por conta disso, mas consigo hoje rever meus conceitos frente a esse problema.  O meu primeiro monstro estava escrito: “a Humanidade reverenciou erros sobre o nome de verdade” (Nietzsche)
Eis que as minhas mudanças foram tomando outros percursos quando resolvi atuar como professora de dança e educação física na educação infantil.  Lá, presenciei inúmeras violências das mais sutis até as mais explicitas (digo isso tanto cometido pelos pais, como também pelos professores, equipe e gerencia pedagógica).  Minha indignação era porque se tratava de crianças de até seis anos, eu sabia das consequências, dos traumas, enfim, das marcas que essas crianças carregariam para o resto das suas vidas. Cada dia eu voltava com um “nó na garganta”. Meu segundo monstro: “O Outro era meu espelho”, precisei revisitar meus conceitos, minhas ações com as crianças, a pergunta que eu fazia: “o que eu queria plantar nas vidas delas?”. Sempre fui amorosa com elas, mas algumas das muitas ações eram despercebidas “porque a humanidade reverenciava desse jeito e assim eu fazia” e foi preciso revisitar cada uma delas para me fazer compreender e o motivo da minha docência.
Engravidei, enquanto estava atuando como docente de um curso de pós- graduação cujo tema gerador era acerca das violências. Ali, eu lidei de frente com as estatísticas e com o choro de muitos professores acerca desse tema. Pude entender que não se tratava apenas dos limites, mas de uma realidade cruel e desafiadora para a humanidade.  Era para além de achar culpados, mas, sobretudo tratava de travar essa guerra a começar pela gente mesmo: “Em que momento da vida eu sou violenta sem sequer me dar conta disso?”.
Foi assim que eu fui surpreendida pela maternidade e por um rever todos meus conceitos. Ganhei um anjo que precisa ser conduzido; eu e o meu marido somos responsáveis por compartilhar e mostrar esse mundo a ele. Já carrego comigo que educar jamais trilha o mesmo caminho do violentar.
Creio que a convivência que estou tecendo com o pequeno me faz novamente pensar o outro como meu espelho: “o outro eu mesmo”, sendo iluminada pelo poema de Clarice Lispector. Caetano me transforma, ensina a reconhecer os meus limites, as minhas tolerâncias e aqui traço um novo compreender acerca da minha autoridade frente a ele. 
O outro aqui também me é tido como barreira: ele também tem suas tolerâncias e limites. Aprendo o meu espaço frente a sua pessoa, frente ao seu corpo, frente a sua vida. Portanto, educar pode ser considerado, sobretudo, viver com harmonia e reconhecimento dos limites e possibilidades de convivência. E quando penso nos “métodos”, penso que adotamos apenas a convivência do respeito e amor mútuo. Mas, seria um “tapa” uma violência? Na medida em que entendemos que há violação do outro, do corpo do outro,  do não respeito, para mim é fato: é violência. 
Ok, não confundam que minha autoridade como mãe me confere esse poder. Eu costumo diferenciar muito bem autoritarismo e autoridade.  Minha ação de poder jamais consente a violência sobre o seu ser.
Sim, esse é um embate que assumi para mim e constantemente sou atravessada por esses pensamentos. Se tenho raiva? Se estou cansada diante de algum “chiliques” do pequeno que por vezes, tem ações que me tiram do eixo? Sim, sou humana-demasiada humana (reconhecer isso também faz parte do meu aprendizado). Eu sou a adulta, capaz de compreender sensações, eu preciso entender como lidar com os meus próprios sentimentos e encarar que jamais poderei tomar atitudes extremadas de violências. 
Ah, mas tapas não são espancamentos! Não? Pensem comigo: quando você bateu pensando apenas vou dar um tapa corretivo? Quanta raiva, quanto amargor (que às vezes nem tem causa direta com a ação do filho- às vezes uma simples mágoa do marido que discutiu um pouco antes, ou o cansaço que impera depois de uma longa jornada de trabalho), tudo isso, toda essa carga emocional está embutido num gesto de um “tapa”. Será ela mesmo capaz de corrigir a humanidade? Ações que supostamente você considera educativas tem um limiar muito pequeno para ser transformada em ações considerada violenta. Pense sempre nisso! 
E optar pela não violência não significa não colocar limites, ao contrário: Na medida em que preservo o espaço do outro a humanidade aprende que cada qual tem o seu espaço, isso lhe confere um grau de autonomia e da convivência respeitosa.
É esse o desejo que tenho, é essa semente que quero plantar para meu filho, não quero que ele compreenda que qualquer ação desrespeitosa com o outro é válida para se conquistar ou se ter algo. Não quero que ele entenda que eu sou a mãe e por isso posso violentá-lo. Não quero que cresça sendo covarde, batendo em crianças, esposas, idosos, etc. Não quero para ele esse mundo em que a banalização do mal impera. Não quero... Não quero....
Ah, se ele apenas continuar dizendo “amooo” aos ventos, dando seus abraços calorosos, rindo e com esse olhar como quem vê o mundo a “casa” dele, eu morro feliz. Afinal, como diz Nietzsche: “Somos nós que criamos o mundo que interessa ao homem!”, seja bem-vindo a ele meu filho...

1 Fazer Comentários:

DaniSapoo disse...

Ju... Muito muito muito maravilhoso esse seu texto! Colocou de forma poetica e muito sincera a caminhar de voces. AMEI!!!
Beijos muito muito felizes!
Dani

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